Gostaria de iniciar esta postagem com a recomendação de pa uma leitura atenta a um livro chamado “São Jorge dos Ilhéus” de Jorge Amado para os curiosos acerca do Porto Sul. Obviamente, devemos levar em consideração o caráter literário da obra. No entanto, não se exclui a possibilidade de usarmos-la como reflexão. Lá, no romance, está uma elite atrasada, forasteira que construiu a sua riqueza com sangue e muita terra; os coronéis que são passados para trás por um empresário ambicioso e corno apoiado por estrangeiros. Não que isto também ocorra com o porto. Não tenho ainda noticias suficientes sobre o que realmente de fato se passa nestas terras.
Pelo que acompanho no site da Ação Ilhéus, leva-me a entender que o porto não parece ser bom negócio. Não encontro em nenhum outro lugar tantas informações claras e aprofundadas, afinal não as encontro no site da secretária de infraestrutura do estado da Bahia, nem no da indústria, comércio e minas, e assim se segue aos demais órgãos responsáveis do Estado. O fato é que o site da ação ilhéus é o único que disponibiliza mais informações com fontes munida de credibilidade. Não é só gogo ou panfletagem como certos jornais da situação, nos dia de hoje, que quando era de oposição, como se procedeu com o anterior governo do estado, se comportava como bom “camarada.” Agora estão como bons cordeiros do governo atual, com comentários que saem da análise imparcial e vão para o lado pessoal.
Bem, mas aonde quero chegar é ao seguinte: o Brasil tem como costume dar de mão beijada o que tem de mais rico; a natureza. Isto se traduz, por exemplo, em políticas de atração de investimentos e de industrialização na qual empresas se instalam com incentivos e dão contra partidas ínfimas. Assim foi com a Cargil, a Bunge e Barry Callibut
Não penso que uma simples empresa possa transformar a realidade de uma região, nem mesmo um porto, que diga o Porto de Santos que concentra grande parte da riqueza do país e mesmo assim ainda há problemas sociais delicados na região. Mas se estes empreendimentos não dividem o seu lucro que obtêm por meio do trabalho das pessoas da região e da exploração dos recursos naturais disponíveis, não vejo sentido
Sinceramente acho difícil no estágio em que estamos, conseguir mudar tal situação. Mas bancar uma de burro, insistir no erro, è um pouco de mais. Se quiserem construir um porto em IOS: ótimo! uma siderúrgica: ta certo! mas que construam no lugar realmente apropriado, que paguem por isso também. Quero saber o que vai ser do povoado da Juerana, do distrito de Sambaituba, do bairro Teotônio Vilela. Neste último sei que tem um distrito industrial. E afinal é lá o lugar mais aconselhável para se criar os filhos? ou será no alto do Pacheco? no pontal? no centro lá perto das boas escolas e dos hospitais que foram construídos pelo “coronéis” para servi-los restritamente?.. Sobre Sambaituba, para quem não sabe, fica do outro lado do Jóia, aonde será construído o aeroporto. Lá é um povoado de refugiados da crise do cacau. Como anda a escola de lá? Tem hospital por lá? E o recolhimento de lixo? E a estrada que a liga à IOS? E a delegacia? E as praças? E o teatro? O porto vai resolver isto? Tem alguma bufunfa destinada para isto? Não falo de merreca não, como um burocrata do estado da Bahia uma vez disse que uma empresa transnacional de eletro-eletrônicos de Camaçari disponibilizou 30 mil computadores para as escolas. Isto é a mesma coisa que espelho para índio cortar pau-brasil.
Não podemos deixar que este porto enriqueça muito a poucos. Em uma mesma região, o avanço da riqueza não impede o avanço da pobreza. Há que dividir, planejar, discutir, acordar, assinar e cumprir. Vão ver como a China faz, pergunte quem transporta as mercadorias chinesas...é uma armadora estatal. Pergunte a um francês quando o Estado coloca seu capital no empreendimento o que acontece, vira sócio. Ora, se as coisas prosseguirem com este porto como prosseguiu com a Zude Exportadora de Saõ jorge dos Ilhéus de Jorge Amado, teremos no futuro o presente que vivemos hoje. Uma sociedade mesquinha, que só pensa no seu... “Farinha pouca meu pirão primeiro”. E aposto que quem está cegamente a favor deste porto, está na perspectiva de um trabalho e que tudo mais vá para o inferno. Pois, pense nisto e encomende um carro blindado para passar no Teotônio Vilela e no Malhado quando forem do porto para Ilhéus. Isto é se não construírem nas proximidades algo como Vilas do Atlântico de SSA, uma bolha! Peraí... mas não estamos falando da política desenvolvimentista irresponsável de outrora quando predominava o governo de direita...
Procuro pensar que não é pra tanto, decerto sabemos que IOS precisa se integrar mais ao estado da Bahia, ao Brasil, a América Latina, assim precisa de melhores estradas, ferrovias e aeroporto. Afinal a maioria dos turistas de IOS é proveniente de outros estados do país e das cidades próximas de IOS, são eles que sustentam barracas na praia do sul, pousadas e hotéis não só no verão como no inverno. Ademais, cidades como Vitória da Conquista, Itapetinga e Itabuna se desenvolveram graças ao seu comércio, indústria e atividade agropecuária voltadas para a própria região ou para o país. Mas é certo também que precisamos pensar na educação, na saúde, na concentração de terra e de riqueza na mão de poucos. Acho difícil que o porto atenda a tudo isto, e como se vê de acordo com as informações neste site e com a ideologia vigente, parece-me que as coisas só tendem a se agravar. Temos que sair da superficialidade das questões e entende-las com mais clareza para saber qual caminho seguir. Além de ficarmos atentos para os políticos e empresários... Fiquemos atentos para nossa consciência. Para o que de fato queremos e precisamos... Sobretudo, ajamos!
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