terça-feira, 7 de julho de 2009

Na superfície do porto sul

Gostaria de iniciar esta postagem com a recomendação de pa uma leitura atenta a um livro chamado “São Jorge dos Ilhéus” de Jorge Amado para os curiosos acerca do Porto Sul. Obviamente, devemos levar em consideração o caráter literário da obra. No entanto, não se exclui a possibilidade de usarmos-la como reflexão. Lá, no romance, está uma elite atrasada, forasteira que construiu a sua riqueza com sangue e muita terra; os coronéis que são passados para trás por um empresário ambicioso e corno apoiado por estrangeiros. Não que isto também ocorra com o porto. Não tenho ainda noticias suficientes sobre o que realmente de fato se passa nestas terras.

Pelo que acompanho no site da Ação Ilhéus, leva-me a entender que o porto não parece ser bom negócio. Não encontro em nenhum outro lugar tantas informações claras e aprofundadas, afinal não as encontro no site da secretária de infraestrutura do estado da Bahia, nem no da indústria, comércio e minas, e assim se segue aos demais órgãos responsáveis do Estado. O fato é que o site da ação ilhéus é o único que disponibiliza mais informações com fontes munida de credibilidade. Não é só gogo ou panfletagem como certos jornais da situação, nos dia de hoje, que quando era de oposição, como se procedeu com o anterior governo do estado, se comportava como bom “camarada.” Agora estão como bons cordeiros do governo atual, com comentários que saem da análise imparcial e vão para o lado pessoal.

Bem, mas aonde quero chegar é ao seguinte: o Brasil tem como costume dar de mão beijada o que tem de mais rico; a natureza. Isto se traduz, por exemplo, em políticas de atração de investimentos e de industrialização na qual empresas se instalam com incentivos e dão contra partidas ínfimas. Assim foi com a Cargil, a Bunge e Barry Callibut em Ilhéus. Acho que foi no final dos anos 70, hoje estas empresas são as maiores exportadoras de derivados de cacau do Brasil, enquanto que a cidade de Ilhéus e a região segue da forma que vemos todos os dias. Afinal, alguém conhece uma pessoa que trabalha nestas empresas. Posso dar vários outros exemplos neste sentido, como o da FORD, isto aí já foi mais recente, foi no início desse nosso jovem milênio, em pleno neoliberalismo que estamos assistindo se definhar hoje. O que quero são dados confiáveis, estudos que me digam que a desigualdade na região na qual a fábrica da Ford se instalou foi diminuída por conta dela, da sua geração de divisas, de sue trabalhos oferecidos. Estive no pólo no ano passado e soube de uma vez que atropelaram um cavalo, sabe o que a população que mora próximo fez... Comeu o cavalo antes que os urubus chegassem. No pólo tem empresas que nenhuma parte do mundo quer por conta de riscos ambientais, pois de onde veio o cheiro de enxofre que cometeu à SSA como no começo desse ano... Mas ao invés de tratar estas empresas com rigorosa fiscalização, dão-se incentivos absurdos que se colocarmos ao lado do que seria arrecadado efetivamente com estas empresas com o que se investe em educação na Bahia, daria para termos uma melhor concepção da importância que o dinheiro bem aplicado tem. Fora que Transnacionais só ficam até darem lucro, depois fecham, assim foi a Coca-cola em Ibicaraí, a Azaléia em algumas cidades próximas à região. Para aonde foi os lucros que elas obtiveram e acumularam ao longo dos anos? Olhe, não há instalação na FORD tanto hidráulica como elétrica subterrânea, isto é para facilitar a desinstalação. E acerca da disputa fiscal provinda do governo FHC entre RS e BA, vejam quem tem maior taxa de analfabetismo e desigualdade ainda hoje. A questão é que um lugar tão pobre qualquer coisa é muita coisa.

Não penso que uma simples empresa possa transformar a realidade de uma região, nem mesmo um porto, que diga o Porto de Santos que concentra grande parte da riqueza do país e mesmo assim ainda há problemas sociais delicados na região. Mas se estes empreendimentos não dividem o seu lucro que obtêm por meio do trabalho das pessoas da região e da exploração dos recursos naturais disponíveis, não vejo sentido em incentivá-los. Este raciocínio pode se estender a qualquer empreendimento, seja no turismo ou na indústria. Qual o sentido em deixar uma empresa exaurir os bens naturais de um lugar e deixar simplesmente salários baixos e desiguais, diga-se de passagem, e a partir destes bens e da mais valia acumular lucros estratosféricos que não serão refletidos em melhorias estruturais na região? Peguemos a cadeia produtiva da soja, também exportada pela Bunge e pela Cargil. Os insumos chegam de fora, como fertilizantes e pesticidas. Chegam de navio neh... navio estrangeiro, pois 90% dos armadores que operam no país são estrangeiros. Os insumos serão colocados em caminhões, não há montadoras nacionais, até os pneus dos caminhões são gringos, assim se procede com a maquina que coloca os insumos no caminhão, o mesmo com o trator no plantio da soja, o mesmo com a Dodge do fazendeiro. Bem, a soja bruta, pois nem aqui se agrega valora ela, vai voltar para o porto como entrou, passando pela mão de empresas estrangeiras que basicamente pagam salários e usufruem dos recursos naturais. Uso o exemplo da soja porque é o principal produto ao lado do minério de ferro a serem exportados, na verdade são os majoritários na pauta. Por fim, os Lucros e os royaltes destas empresas são enviados para fora, para o mercado financeiro brincar de cassino.

Sinceramente acho difícil no estágio em que estamos, conseguir mudar tal situação. Mas bancar uma de burro, insistir no erro, è um pouco de mais. Se quiserem construir um porto em IOS: ótimo! uma siderúrgica: ta certo! mas que construam no lugar realmente apropriado, que paguem por isso também. Quero saber o que vai ser do povoado da Juerana, do distrito de Sambaituba, do bairro Teotônio Vilela. Neste último sei que tem um distrito industrial. E afinal é lá o lugar mais aconselhável para se criar os filhos? ou será no alto do Pacheco? no pontal? no centro lá perto das boas escolas e dos hospitais que foram construídos pelo “coronéis” para servi-los restritamente?.. Sobre Sambaituba, para quem não sabe, fica do outro lado do Jóia, aonde será construído o aeroporto. Lá é um povoado de refugiados da crise do cacau. Como anda a escola de lá? Tem hospital por lá? E o recolhimento de lixo? E a estrada que a liga à IOS? E a delegacia? E as praças? E o teatro? O porto vai resolver isto? Tem alguma bufunfa destinada para isto? Não falo de merreca não, como um burocrata do estado da Bahia uma vez disse que uma empresa transnacional de eletro-eletrônicos de Camaçari disponibilizou 30 mil computadores para as escolas. Isto é a mesma coisa que espelho para índio cortar pau-brasil.

Não podemos deixar que este porto enriqueça muito a poucos. Em uma mesma região, o avanço da riqueza não impede o avanço da pobreza. Há que dividir, planejar, discutir, acordar, assinar e cumprir. Vão ver como a China faz, pergunte quem transporta as mercadorias chinesas...é uma armadora estatal. Pergunte a um francês quando o Estado coloca seu capital no empreendimento o que acontece, vira sócio. Ora, se as coisas prosseguirem com este porto como prosseguiu com a Zude Exportadora de Saõ jorge dos Ilhéus de Jorge Amado, teremos no futuro o presente que vivemos hoje. Uma sociedade mesquinha, que só pensa no seu... “Farinha pouca meu pirão primeiro”. E aposto que quem está cegamente a favor deste porto, está na perspectiva de um trabalho e que tudo mais vá para o inferno. Pois, pense nisto e encomende um carro blindado para passar no Teotônio Vilela e no Malhado quando forem do porto para Ilhéus. Isto é se não construírem nas proximidades algo como Vilas do Atlântico de SSA, uma bolha! Peraí... mas não estamos falando da política desenvolvimentista irresponsável de outrora quando predominava o governo de direita...

Procuro pensar que não é pra tanto, decerto sabemos que IOS precisa se integrar mais ao estado da Bahia, ao Brasil, a América Latina, assim precisa de melhores estradas, ferrovias e aeroporto. Afinal a maioria dos turistas de IOS é proveniente de outros estados do país e das cidades próximas de IOS, são eles que sustentam barracas na praia do sul, pousadas e hotéis não só no verão como no inverno. Ademais, cidades como Vitória da Conquista, Itapetinga e Itabuna se desenvolveram graças ao seu comércio, indústria e atividade agropecuária voltadas para a própria região ou para o país. Mas é certo também que precisamos pensar na educação, na saúde, na concentração de terra e de riqueza na mão de poucos. Acho difícil que o porto atenda a tudo isto, e como se vê de acordo com as informações neste site e com a ideologia vigente, parece-me que as coisas só tendem a se agravar. Temos que sair da superficialidade das questões e entende-las com mais clareza para saber qual caminho seguir. Além de ficarmos atentos para os políticos e empresários... Fiquemos atentos para nossa consciência. Para o que de fato queremos e precisamos... Sobretudo, ajamos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário