terça-feira, 7 de julho de 2009

Um Sábado de Sol numa Biblioteca em Salvador

Num belo dia ensolarado de sábado, acordo disposto a ir à biblioteca mais próxima de casa para estudar, dentro de uma rotina diária de estudos para conquistar objetivos e sonhos. Havia dias que não freqüentava esta biblioteca, principalmente nos dias de semana, por ser muito movimentada e o silêncio ser algo raro, mais fácil encontra-lo como palavras contidas em livros ou em folhetos com advertências elucidativas e dicas de como se comportar em tal ambiente – inútil, porém louvável atitude do DCE. Dias de semanas são um suplicio para os que buscam realmente estudar nesta biblioteca, principalmente, nos horários de intervalo e o que antecede o início das aulas.

Tinha acordado relativamente cedo e por volta das oito horas e meia da manhã de sábado já estava com o livro aberto na biblioteca estudando. Não demorou uma hora para escutar os murmurinhos típicos de uma boa roda de amigos conversando, de fato não consigo saber se o que mais incomoda são os cochichos dos quais não podemos identificar uma só palavra com clareza ou, simplesmente, quando há a possibilidade de escutar perfeitamente a conversa a respeito da night anterior. Esta última é até interessante para os que têm certo traço de voyerismo. Saí de perto desta sala de “estudos” em grupo e me encaminhei para lugar mais distante na esperança de encontrar silêncio. Logo após, um outro estudante fez o mesmo. Em nada adiantou. Em paralelo a este grupo havia outro e os dois estavam ao fundo da biblioteca emitindo um ruído que ecoava pelos quatro cantos do lugar. Direcionei-me às educadas e prestativas funcionárias da biblioteca relatando, ou melhor, delatando a situação, elas me informaram que já havia requisitado silêncio a estes grupos, mas, mesmo assim, atenderam a minha solicitação em forma de delato e foram pedir o estimado silêncio. Aguardei um pouco e novamente, de nada adiantou, o pedido foi ignorado. Lembrei-me de um programa humorístico que passaria no mesmo sábado à noite, com um jargão típico esboçado por uma personagem com falta de “gramuor” que é o seguinte: “Tô pagannnno”.

Bem, já não sou aluno mais da faculdade aonde essa biblioteca se encontra, por isso não posso usar esse jargão para clamar pelos meus direito de estudar em uma biblioteca que conste de silêncio e tranqüilidade, no máximo, só se o utilizasse no pretérito. Mas prefiro o direito, não aquele escrito em letrinhas minúsculas contidas em códigos em forma de livros que de tão grossos não precisa se escorar em nada para ficar em pé, mas estes também se encontram disponíveis na biblioteca. Refiro-me ao direito derivado do pensamento construído por obras que buscaram fundamentar uma melhor forma de promover a vida em sociedade. Obras construídas a partir de pensadores como Sócrates, Platão, Aristóteles, Locke, Hobbes, Voltaire, Russeu, Kant, dentre outros tantos. Nunca é demais lembra-los, como uma esperança de fazer com que as pessoas que não sabem ao certo até aonde vai o limite do direito individual em um sociedade civilizada possa passar a saber. Saí da biblioteca com um sentimento de indignação, sem saber ao certo o que mais motivava este sentimento; o barulho ali existente ou a falta de respeito perante aos outros que estavam por ali tentando verdadeiramente estudar.

Dentro dessa perspectiva me vieram à cabeça soluções para essa situação. A primeira que veio, foi uma solução drástica, contratar seguranças com o poder para tirar quem não obedecesse à lei do silêncio. Logo a abandonei, se tratava de uma medida exageradamente autoritária dentro do que traria Foucault com a Micro Física do Poder e fora do contexto do real papel dos seguranças, mais úteis para permitir que os estudantes estacionem com segurança em cima dos passeios públicos ao redor da universidade. A outra, dentro de um pensamento dialético Hegueliano, como uma antítese, seria a proliferação desta crônica com cara de manifesto, nada próximo ao de Marx, mas com o humilde, facilmente definido como sonhador, objetivo de que as pessoas podem sim, se tomar por autoconsciência, por mais que o humano demasiado humano, como diria Nietzsche, seja invariavelmente irracional. De qualquer forma há aí em voga o contrato social do já citado Hobbes, para que possamos viver em sociedade. A respeito destas alternativas colocadas aqui para resolver o problema da falta de silêncio na biblioteca, proponho uma eleição com os alunos ou representantes de sala para saber qual alternativa seria mais cabível e dessa forma e, dentro do que traz Bobbio, ampliar os espaços democráticos na sociedade.

Sabendo do possível fracasso dessa atitude me arrisco a propor uma outra alternativa, talvez, mais plausível. Legalizar a conversa na biblioteca, deixar todos livres para conversar, falar alto e até mesmo dançar. Implantar o caos como analogia ou até mesmo apologia ao que encontramos no mundo. Ou/e como uma derivação desta alternativa criar uma outra biblioteca para os que de fato querem estudar e daí instituir a segregação, tão conhecida por nós. Afinal, aquele sábado era um dia de sol, bom para ir à praia, mas aqueles que queriam estar ali em grupo, fingindo que estavam estudando para alimentar a falsa impressão de dever cumprido, não só estavam se enganado como certamente estavam atrapalhando os que tinham a consciência de fazer o que se deve ser feito para melhorar a realidade não só particular, mas e, também, por que não da sociedade...

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